terça-feira, 4 de maio de 2010

JUNHO

2 centímetros, era o seu tamanho. Nome: Chu*. Mal conseguia tocar a flor Berla do jardim vizinho. ( Flor Berla: flor pequena. Tamanho: 3 cm. Origem: desconhecida. Cor: vermelha. Perfume: inodora por natureza. Tempo de vida: 3 dias.)

Chu, olhava todos os dias para uma pedra azulada que ficava próxima a sua casa, um pequeno cogumelo verde. Nela, ia medir sua altura várias vezes por dia. Quando o sol preparava-se para se pôr, Chu já estava na pedra. Era o melhor horário, pensava. Preocupava-se muito com sua altura, mesmo dizendo que não. Se não estava na pedra, ficava o resto do tempo que lhe sobrava observando as grandes árvores querendo conhecer e testar um prouxe** ou uma prouxa. (fruta de cor avermelhada com uma leve semelhança a manga.) Chu, não tinha o tamanho ideal ainda para prouxe nem prouxa. Não alcançava os pequenos galhos muito menos os grandes. Os dias passavam e a ansiedade aumentava. Junho se aproximava e Chu não queria ficar sem a fruta. A fome era grande. Mas o seu tamanho atrapalhava um pouco, para quem visse de perto. De longe era difícil dizer a sua altura. Conseguia disfarçar bem. De onde estava não era possível ver tudo. Arriscava uma aproximação com gritos, mas o tamanho não ajudava. A distância era grande, de baixo para cima.

10cm. Chu estava um pouco maior. Caminhava nas folhas, pedras e água à procura do fruto. Sem sucesso. Culpava a árvore, os galhos, as nuvens...
Numa de suas caminhadas avista uma casa; enorme, telhado bonito e ficava de frente aos prouxes(as). Altura perfeita. Com muito esforço sobe pelas frestas da casa e chega até o topo. Foi mágico. De cima era capaz de ver tudo e todo. Sentira uma sensação boa e estranha.

Poucos dias para o grande dia. Chu não espera, age pensando em si. Queria ter conhecimento e experiência para no grande dia não fazer feio. Não pensa nem se o fruto tem dono. Suas preocupações eram outras. Chu queria apenas testar. E começa. Começa pegando todas as frutas, suas mãos pequenas mal conseguiam pegar prouxes(as). Não sentia que a fruta se machucava com seus movimentos rápidos. A ânsia, o desejo e a curiosidade pela tal era tão grande que não via. Isso fez com que algumas fossem machucadas, Chu não percebe. Pegar e morder era tão natural naquele momento que não notava os ferimentos nos frutos. Mas para a árvore não, se ferira muito. Galhos foram quebrados e folhas machucadas. Até o grande dia chegar foi o que aconteceu. Galhos, frutos e folhas esmagados. Prouxe tratado do mesmo modo que prouxa. Não sabia ainda que cada um é diferente do outro, mesmo sendo da mesma árvore. Não é possível saber apenas olhando. Era preciso ver (olhar para fora) o que não fazia.

17cm. Pela primeira vez era possível ver prouxe e prouxa no chão. Difícil de acreditar, mas aconteceu. Junho chega. Chu não sabia o que tinha feito, para Chu, tinha sido tudo normal. Natural. O tempo passa. Junho mais uma vez vem. Nenhum prouxe(a) nos galhos. Era difícil entender o porquê da grande árvore ter parado de dar frutos. Nem as flores apareciam mais. Chu sempre ficava ali no telhado à espera. Mas esperar o quê? De cima olhava e de cima não via. Ainda não aprendera. Ficou dias, horas, junhos e nada. Não sabia que agora os frutos nasciam de baixo. Se preocupava em tentar fazer algo inesperado, novo e perdia o nascer e crescer. Passava horas tentando entender o porquê das coisas, e o tempo todo olhando para dentro.

Enquanto Chu não descer, não aprenderá e nem verá.

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Chu*, (um ser desconhecido)

Prouxe(a)** Um fruto de origem ainda desconhecida. Cresce uma vez por ano e amadurece nos galhos sem cair. Permanece na árvore depois de maduro por 6 dias para que qualquer um possa “tirar”. Não é preciso puxar, ao aproximar a mão num deles o fruto cai. Se vai ser prouxe(a) ainda não se sabe como é a escolha. Caso não apareça ninguém para pegar o fruto, o mesmo desaparece diminuindo o seu tamanho, encolhendo, até tornar-se flor novamente.

Os próximos frutos só no ano seguinte. Mês: Junho.

Não se sabe o porquê do mês até hoje. Um mistério.

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